quarta-feira, 8 de dezembro de 2010





Pequenas economias ou discriminação racial em lojas de brinquedos?

Prezadas e prezados,em época natalina e de revisões para um novo ano, esse é um convite à reflexão!

No dia 3 de dezembro de 2010, ao procurar por bonecas para um curso, na loja de brinquedos da rede Ri Happy do Shopping Higienópolis, solicitei duas bonecas de um mesmo modelo de “bebê” cuja única diferença era a cor, fui surpreendida com uma diferença de preço, sendo a boneca negra mais barata do que a boneca branca. Ao questionar a vendedora fui informada que o preço já é diferente vindo do fornecedor/fabricante; solicitei a presença do gerente. A conversa com o gerente só confirmou as informações anteriores, o preço é diferente mesmo e a única diferença entre as bonecas é a cor da “pele”.
Como consumidora, manifestei a minha contrariedade em pagar por um mesmo produto valores diferentes. Também como mãe, cidadã, pediatra que testemunha e acompanha o desenvolvimento de crianças diariamente, membro do comitê estadual de saúde da população negra e conselheira estadual de direitos da criança e do adolescente do Estado de São Paulo, manifestei minha profunda indignação com tamanha discriminação. Qualquer resposta ou tentativa de justificativa parece apenas piorar o fato.
Imaginemos uma criança negra entrando com sua mãe em uma loja de brinquedos para comprar uma boneca que será por algum tempo a sua “filhinha”, de cara nos deparamos com o fato inconteste do diminuto número de bonecas com a cor parecida com a cor da sua pele. Consideremos que ela dê a mesma sorte que eu e exista uma boneca negra a disposição, exatamente igual a branca, porém mais barata, de menor valor comercial. Talvez essa criança hipotética, assim como tantas crianças reais nem perceba que há diferença no preço das bonecas, mas nós adultos, minimamente atentos às desigualdades e iniqüidades existentes principalmente na infância, temos obrigação de perceber e questionar.
Qual será a mensagem que passamos às crianças?
Que elementos oferecemos em um episódio como este para a formação ou a “deformação” da sua auto-imagem e conseqüentemente da sua auto-estima?
Tenho várias hipóteses e um profundo mal estar que me impulsionou a escrever e denunciar o fato, para que muitos leiam e possamos construir um caminho de respeito às diferenças entre as pessoas e respeito ao direito de crescer livre da discriminação e do preconceito.
Inconformada, no dia seguinte na loja do Shopping Villa Lobos da mesma rede, o incidente repetiu-se. Isso mostra que não são fatos isolados, mas que a rede de lojas Ri Happy, cujo público alvo é a criança, favorece o processo discriminatório de cunho étnico-racial na comercialização desse item.
Informo que os dois episódios acima relatados culminaram com a compra das bonecas, anexo notas fiscais como prova do ocorrido.

Atenciosamente

Sandra Regina de Souza

9 comentários:

  1. Estou pasma e igualmente indignada!!!

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  2. Estou pasma e igualmente indignada!!! (2)

    Já é difícil ter bonecas negras no mercado, assim como japonesas e afins... a maior parte são loiras e de olhos claros, como se fossemos um país com essas características.

    Um grande absurdo!
    bjs

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  3. Posso passar adiante???
    É de enojar!

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  4. Podemos e devemos passar adiante!
    As crianças desse país agradecem.
    bjs

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  5. em primeiro lugar quero deixar muito claro que repudio qualquer ato de discriminação e preconceito. quanto ao fato ocorrido, creio que devemos, antes de qualquer julgamento, conhecer todos os lados, já vi tantos casos de pré julgamento, isso sim me deixa pasmo,Vamos refletir um pouco a respeito:
    vamos imaginar que o fabricante tenha fabricado dez mil bonecas de cor de pele clara, dez mil bonecas de cor de pele negra e dez mil bonecas de olhos puxados. Em duas semanas foram vendidas seis mil, sendo que: cinco mil e quinhentas eram de cor de pele clara, trezentas e cinquenta pele negra e cento e cinquenta olhos puxados, bem, daí já dá pra imaginar que o próprio "mercado" impôs a lei da oferta e procura, se o lojista ou fabricante não quiser ter mercadoria encalhada o que vocês acham que ele deve fazer???
    cuidado com PRÉjulgamentos, eles são tão nocivos quanto PRÉconceitos!!!!

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  6. Infelizmente o comentário acima é anônimo!Agradeço a colaboração.Voce está certo, o convite é para a reflexão! Ouvir todos os lados, mas principalmente dar visibilidade a determinados fatos que tem um impacto muitas vezes difícil de colocar em números, quando o assunto é desenvolvimento infantil.
    Explicações e justificativas certamente existem, mas a idéia é chamar a atenção para uma outra dimensão, bem mais tímida e silenciosa que é a subjetividade.

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  7. É interessante pensar que a cor da pele pode ser colocada, analisada ou calculada a partir da lei da oferta e da procura.
    Tanto o fabricante quanto a loja, têm responsabilidade sobre o "valor" que agregam aos produtos que vendem. Pode parecer uma coisa insignificante ou pequena pensar assim, mas isso também faz parte da ética da empresa. A ética de uma empresa está totalmente ligada à imagem dela. Neste caso, do meu ponto de vista, tal loja mostrou o valor, missão e ética que a representa.
    Bjos,
    Miura

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  8. Não entendi, gente. Quando vocês vão comprar ovos no mercado e os ovos vermelhos estão mais caros que os brancos, vocês vão no gerente reclamar que os ovos brancos estão sendo discriminados?
    Lei da oferta e procura, pura e simplesmente. Vende mais, é mais caro. Vende menos, é mais barato.
    Tem muita discriminação de verdade por aí. Vamos parar de procurar pelo em ovo.
    Beijos,
    Camilla

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  9. Pois é, Camilla, penso que você não entendeu mesmo o que está em discussão. E certamente não é se compramos mais alface crespa ou lisa, se decidimos comprar orgânicos ou não. Estamos falando do cuidado com outra dimensão do humano, do seu desenvolvimento e todas as suas possibilidades incentivadas ou cerceadas por pessoas mais ou menos cuidadosas.

    Julia

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