Plagiando
o irmão de uma amiga querida:
“ Se
eu pudesse, teria um filho de dois anos, todo ano”
Os
bebês nascem cem por cento dependentes e assim permanecerão por muito e muito
tempo...
No
início há um estranhamento em relação a essa nova situação em que bebê e mãe
viram quase um outro ser, tudo junto e misturado. Com mais ou menos resistência
os dias seguem nessa nova formatação, nessa nova ordem.
Aleitamento
materno, muito colo, cama separada ou compartilhada, criação com apego e
“subitamente” o bebê começa a fazer suas
incursões exploratórias no mundo que o cerca. Sustenta a cabeça, acompanha sons
e objetos, acha a mão, vira e não desvira, fica bravo, vira e fica, vira e
desvira, se arrasta, fica em pé com apoio, senta sozinho, enfim engatinha e
anda. Isso tudo sem falar nas longas conversas em um dialeto próprio que começa
bem cedo a ser construído. O que dizer então daquele olhinho comprido e apaixonado
e as gargalhadas ?? Puro encantamento recheado com algum cansaço, algumas
crises existenciais e claro, algumas noites sem dormir, mas puro encantamento!!
Novo
“subitamente” e já há muito o que explorar fora dos limites do colo e do
abraço, o mundo passa a existir como estímulo e tudo, absolutamente tudo chama
a atenção do pequeno ser humano!! Ficar em pé, sair andando, conquistar terras
distantes!! Apontar, pedir, ter seu dialeto compreendido, ser atendido,
comunicar-se cada vez com mais clareza...
Tudo
corre dentro do esperado, ele vai ficando cada vez mais autônomo, inclusive
para brincar... Parece que está bem próxima a alforria e tudo continua bem...
Alimentação saudável, sono melhorando ou noites incríveis já rolando, passeios,
brincadeiras mais e mais divertidas.
Quando
tudo parecia estar nos eixos e os adultos começam a acreditar que sua vida voltou
ao normal, o pequeno ser humano que até aqui se autodenominava “ A LAURINHA”, “
O BEBÊ”, “ O GRANDÃO”, “ A
PRINCESA” diz “ EU” !!!
Ao
dizer “EU” a criança inaugura publicamente e na sua relação com o mundo, a sua
individualidade e tudo aquilo que até então eram semelhanças – a braveza da avó
Maria, a esperteza do tio João, a concentração da mamãe, a teimosia do papai,
as covinha do irmão mais velho – é totalmente absorvido e tomado para si. Há
uma apropriação manifesta do que estava fora e características são
identificadas e expostas como sendo da
própria criança.
Tudo
lindo, exceto pelo fato de que há necessidade, daqui para frente de considerar
o pequeno ou a pequena como um ser de vontades, de escolhas. A decisão e a
responsabilidade pelo cuidado continua sendo do adulto, mas agora se manifesta
um ser que muitas vezes, no seu caminho de reconhecimento e exploração do mundo
nos confronta!!
Uma
criança de aproximadamente 30 meses, consegue comunicar com clareza o seu
deslumbramento e as suas frustrações, tem energia, ultrapassa ou tenta
ultrapassar os limites físicos, ambientais e emocionais, explora e discrimina
objetos, partes do corpo e o seu uso. Ampliando os seus domínios pode tentar
escalar a escada por fora da rede de proteção por exemplo, pode querer ilustrar
as paredes com um pouco de cor, pode esvaziar o armário para guardar os
brinquedos ou para se esconder, dentre tantas outras aventuras do cotidiano...
Pessoalmente,
sinto uma profunda devoção por essa fase da vida em eu me descubro um
indivíduo, consigo discriminar o que não sou eu (nem sempre com a elegância
esperada). A maturidade emocional chega depois, bem depois, muitas vezes deixando
um abismo entre o que já posso executar,
o que quero e o que sinto. Nessa fase as declarações de amor tão
apreciadas pelos adultos dividem o mesmo espaço que as birras, tudo intenso e
transbordante.
Decidi
começar essa conversa porque, para além do meu horror a siglas ou rótulos que
surgem e passam a ser reproduzidos sem nenhum critério por verdadeiros
papagaios- tenho testemunhado alguns casos de muita dor e de um profundo
despreparo de algumas famílias para lidarem com o crescimento, o
desenvolvimento e a individuação dos seus pequenos.
Colocar
em um pacote com a etiqueta “ terrible two”
as nossas expectativas em relação ao comportamento dos nossos filhos,
enquanto estamos frustrados e impotentes frente a esse exército chamado “EU”,
nos paralisa!!
Nova
fase, novos desafios, novas conquistas, novas recompensas. Deixar crescer é
preciso!!
O ser humano está aqui para aprender e para se
desenvolver desde a sua primeira e até a sua última respiração, temos tempo!!
Na
dúvida: gentileza!!! SEMPREEEEEE!