terça-feira, 26 de agosto de 2014

Os Incríveis dois anos






Clara e Jorge, incríveis!!!


Plagiando o irmão de uma amiga querida:
“ Se eu pudesse, teria um filho de dois anos, todo ano”


Os bebês nascem cem por cento dependentes e assim permanecerão por muito e muito tempo...
No início há um estranhamento em relação a essa nova situação em que bebê e mãe viram quase um outro ser, tudo junto e misturado. Com mais ou menos resistência os dias seguem nessa nova formatação, nessa nova ordem.
Aleitamento materno, muito colo, cama separada ou compartilhada, criação com apego e “subitamente” o bebê  começa a fazer suas incursões exploratórias no mundo que o cerca. Sustenta a cabeça, acompanha sons e objetos, acha a mão, vira e não desvira, fica bravo, vira e fica, vira e desvira, se arrasta, fica em pé com apoio, senta sozinho, enfim engatinha e anda. Isso tudo sem falar nas longas conversas em um dialeto próprio que começa bem cedo a ser construído. O que dizer então daquele olhinho comprido e apaixonado e as gargalhadas ?? Puro encantamento recheado com algum cansaço, algumas crises existenciais e claro, algumas noites sem dormir, mas puro encantamento!!
Novo “subitamente” e já há muito o que explorar fora dos limites do colo e do abraço, o mundo passa a existir como estímulo e tudo, absolutamente tudo chama a atenção do pequeno ser humano!! Ficar em pé, sair andando, conquistar terras distantes!! Apontar, pedir, ter seu dialeto compreendido, ser atendido, comunicar-se cada vez com mais clareza...
Tudo corre dentro do esperado, ele vai ficando cada vez mais autônomo, inclusive para brincar... Parece que está bem próxima a alforria e tudo continua bem... Alimentação saudável, sono melhorando ou noites incríveis já rolando, passeios, brincadeiras mais e mais divertidas.
Quando tudo parecia estar nos eixos e os adultos começam a acreditar que sua vida voltou ao normal, o pequeno ser humano que até aqui se autodenominava “ A LAURINHA”, “ O BEBÊ”,  “ O GRANDÃO”, “ A PRINCESA”  diz “ EU” !!!
Ao dizer “EU” a criança inaugura publicamente e na sua relação com o mundo, a sua individualidade e tudo aquilo que até então eram semelhanças – a braveza da avó Maria, a esperteza do tio João, a concentração da mamãe, a teimosia do papai, as covinha do irmão mais velho – é totalmente absorvido e tomado para si. Há uma apropriação manifesta do que estava fora e características são identificadas  e expostas como sendo da própria criança.
Tudo lindo, exceto pelo fato de que há necessidade, daqui para frente de considerar o pequeno ou a pequena como um ser de vontades, de escolhas. A decisão e a responsabilidade pelo cuidado continua sendo do adulto, mas agora se manifesta um ser que muitas vezes, no seu caminho de reconhecimento e exploração do mundo nos confronta!!
Uma criança de aproximadamente 30 meses, consegue comunicar com clareza o seu deslumbramento e as suas frustrações, tem energia, ultrapassa ou tenta ultrapassar os limites físicos, ambientais e emocionais, explora e discrimina objetos, partes do corpo e o seu uso. Ampliando os seus domínios pode tentar escalar a escada por fora da rede de proteção por exemplo, pode querer ilustrar as paredes com um pouco de cor, pode esvaziar o armário para guardar os brinquedos ou para se esconder, dentre tantas outras aventuras do cotidiano...
Pessoalmente, sinto uma profunda devoção por essa fase da vida em eu me descubro um indivíduo, consigo discriminar o que não sou eu (nem sempre com a elegância esperada). A maturidade emocional chega depois, bem depois, muitas vezes deixando um abismo entre o que  já posso executar, o que  quero e o que  sinto. Nessa fase as declarações de amor tão apreciadas pelos adultos dividem o mesmo espaço que as birras, tudo intenso e transbordante.
Decidi começar essa conversa porque, para além do meu horror a siglas ou rótulos que surgem e passam a ser reproduzidos sem nenhum critério por verdadeiros papagaios- tenho testemunhado alguns casos de muita dor e de um profundo despreparo de algumas famílias para lidarem com o crescimento, o desenvolvimento e a individuação dos seus pequenos.
Colocar em um pacote com a etiqueta “ terrible two”  as nossas expectativas em relação ao comportamento dos nossos filhos, enquanto estamos frustrados e impotentes frente a esse exército chamado “EU”, nos paralisa!!
Nova fase, novos desafios, novas conquistas, novas recompensas. Deixar crescer é preciso!!
 O ser humano está aqui para aprender e para se desenvolver desde a sua primeira e até a sua última respiração, temos tempo!!
Na dúvida: gentileza!!! SEMPREEEEEE!